O livro apresenta o impacto da inteligência artificial nas relações de consumo com foco em três aspectos centrais desse debate: discriminação, determinismo e soluções online de conflitos. Parte-se da premissa de que as predições algorítmicas são incisivas e determinantes na construção da individualidade do consumidor, mormente para diminuir o valor intrínseco dos sujeitos, minando sua confiança e reduzindo sua capacidade de tomar decisões livres, voluntárias e adequadas às suas legítimas expectativas, padronizando-os. O medo do consumidor de assumir a responsabilidade por suas escolhas leva à subserviência e à insegurança frente o avanço de algoritmos perigosos, abrindo espaço para a discriminação, o aumento da conflituosidade, como também contribui para o agravamento de sua vulnerabilidade.
Propõe-se, a partir do diálogo entre as Leis 8.078/90 (CDC) e 13.709/18 (LGPD) o desafio estratégico às plataformas eletrônicas de conceberem e executarem programas de governança corporativa, que identifiquem, corrijam e evitem conflitos de consumo, a partir de referenciais ético-normativos para problemas relacionados ao uso acrítico e irresponsável da inteligência artificial, aproximando-se, comparativamente, experiências bem sucedidas no Brasil com aquelas mais avançadas no plano internacional.
Defende-se, também, a participação do Estado na confecção e execução (ao lado da sociedade civil e dos agentes econômicos) de uma verdadeira Política Nacional para a Tutela de Dados Pessoais no Brasil, implementando compromissos éticos, diretrizes para atuação das plataformas eletrônicas, tais como mecanismos de monitoramento periódico, modelos de compliance que valorizem a transparência na coleta e tratamento dos dados, o controle de vieses discriminatórios e deterministas, assim como também a correção preventiva de falhas de segurança, com a consequente assunção voluntária de responsabilidades, sem prejuízo da aplicação rigorosa das sanções administrativas previstas na legislação.